Record deve desculpas pelo “Legendários”
Já escrevi por aqui sobre meu descontentamento com o humor na televisão brasileira. Apesar da enorme oferta de programas cômicos, são poucas as opções de qualidade. Algumas provocam repulsa, caso do “Legendários”, da Record. Sem qualquer graça, a atração comandada por Marcos Mion apela ao mau gosto para tentar ao menos destaque na mídia, já que a audiência não corresponde.
De tão pretensamente ousado, “Legendários” provoca vergonha alheia. O programa lembra aqueles times de futebol que recheiam o elenco com estrelas, mas não ganham um título sequer. Se bem que, por ali, alguns têm muita garganta e pouca voz. Estilo Cristiano Ronaldo: parece craque, mas não é.
“Legendários” foi apresentado como revolucionário. Marcos Mion parecia certo que existiria a televisão brasileira antes da atração e depois do programa. O que se viu desde a estreia, no entanto, foi falta de originalidade e uma repetição mal feita do que já é exibido em outros canais. Nada mais razoável para competir com “Zorra Total”, o festival de humor datado da Globo.
É grande a repercussão negativa do “Legendários”. Durante a exibição na TV, uma passada pelo Twitter revela o descontentamento dos telespectadores. Acusações de cópia descarada do “Pânico na TV” (RedeTV!) e do “CQC” (Band) pipocam aos montes.
“Legendários” parece não se importar e corrobora isso semanalmente. Recentemente, um vídeo gravado durante uma palestra de Marcelo Tas, em Belo Horizonte (MG), mostrou uma tremenda gafe protagonizada pelo comediante Marcelo Marrom. Ele interrompeu o evento para propor uma suposta trégua entre o programa e o “CQC”. “De coração, a gente é admirador do Tas. O Tas inspira o ‘Legendários’ hoje, sim. A gente segue ele no Twitter para saber o que ele fala, assiste ao programa e é comentado em nossas reuniões. O ‘Legendários’ é um programa que está começando e precisa dessa ousadia. Então, em nome dessa ousadia que você tanto prega, eu queria te entregar essa bandeira da paz aí no palco.”
Marcelo Tas, décadas de televisão e sempre ágil, mostrou como desmontar um discurso criado apenas para gerar repercussão, não risadas, que deveria ser o objetivo do “Legendários”. “Eu trato você sem paz? Eu trato você com algum tipo de agressividade?”, perguntou o apresentador do “CQC”. Marcelo Marrom foi convivado a subir no palco, mas acabou expulso pelas vaias pela plateia.
O desespero por atenção parece não ter limites. No último sábado (26), o “Legendários” exibiu um quadro em que levou modelos para assistir, em um bar paulistano, à partida entre Brasil e Costa do Marfim pela Copa do Mundo. A cada gol brasileiro, elas mostravam os seios. Piada utilizando a mulher como objeto, algo do tempo do humor movido a manivela.
O quadro chamou atenção de Jefferson Aparecido Dias, procurador regional dos direitos do cidadão do MPF-SP (Ministério Público Federal do Estado de São Paulo). Segundo o jornal Agora São Paulo, ele instaurou um procedimento administrativo contra o “Legendários”. Quer explicações da Record, pois durante a gravação da brincadeira, as crianças no espaço foram expostas a cenas de nudez.
Para o jornal, a Record alegou que nenhum menor apareceu nas cenas exibidas na TV, gravadas em um bar aberto ao público. Bela justificativa, não? Creio que a Record deve desculpas por exibir algo tão sem graça, isso sim.
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