Os Mercenários traz Sylvester Stallone parado no tempo

Os Mercenários traz Sylvester Stallone parado no tempo


Novo filme do ator e diretor é amontoado de clichês diretamente dos anos 1980

Sylvester Stallone em Os Mercenários: nenhuma surpresa e mesmice na carreira do ator

"Estamos nos esquecendo da audiência masculina. Até as mulheres se perguntam onde estão os homens de verdade". A frase, de Sylvester Stallone, é um resumo perfeito das intenções de Os Mercenários, novo trabalho do ator e diretor americano: um filme para homens. Na cabeça do cineasta, isso significa um excesso de socos e explosões, um enredo que amontoa praticamente todos os clichês de filmes de ação dos anos 1980 e uma série de frases de efeito supostamente engraçadas – além de uma dose considerável de machismo.
No longa, Stallone interpreta o líder de um grupo de mercenários contratado para assassinar o ditador de uma ilha perdida na América Latina. Ao chegar lá, conhece uma jovem rebelde (a brasileira Gisele Itié) e descobre que o verdadeiro vilão é um ex-agente da CIA transformado em traficante de drogas. O desfecho é previsível: Stallone e Itié se apaixonam, ela é capturada pelo traficante, os mercenários iniciam uma ação suicida para salvá-la, os socos, tiros e explosões progridem para mais socos, tiros e explosões e o filme acaba.

Foto: Divulgação
Gisele Itiê: mocinha genérica no filme
A produção gerou uma grande expectativa no Brasil porque em boa parte foi filmada em Mangaratiba, no litoral do Rio de Janeiro. O país, no entanto, não é citado nenhuma vez na trama, já que a história se passa na fictícia ilha de Vilesa, onde todos falam espanhol. Estão na trama todos os clichês sobre a América Latina que se espera de um filme americano: o general de bigode que vive num palácio colonial (no caso, o Parque Lage, mesmo lugar em que Glauber Rocha filmou Terra em Transe), a mocinha de blusa branca decotada, os soldados incompetentes.
Ver tantos estereótipos na tela, ainda mais depois das desastradas declarações de Stallone sobre o Brasil (durante uma coletiva na Comic-Con, ele disse: "Você pode explodir o país e eles vão dizer 'obrigado, e aqui está um macaco'"; diante da reação negativa, pediu desculpas e disse que tentou falar algo engraçado, mas se expressou mal), é bastante irritante. Mas, se serve de consolo, não é exclusividade dos latinos: o filme também mostra árabes como fanáticos assassinos e mulheres como objetos que só servem para serem salvos pelos homens.
Até aí, nenhuma surpresa – boa parte da carreira de Stallone foi calcada nesses clichês. Mas, depois da digna ressurreição do lutador Rocky Balboa no sexto filme da série, há quatro anos, podia-se esperar alguma surpresa nessa reunião de velhos mercenários. Mas não. Até as cenas de ação são fracas, se comparadas com filmes mais recentes. E as participações especiais de astros dos anos 1980 parecem ter sido divertidas de filmar. De ver, nem tanto: as pontas de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, por exemplo, são constrangedoras.
Se fosse lançado em 1985, Os Mercenários poderia se salvar. Mas, depois de Quentin Tarantino, seu humor soa ridículo. Depois da trilogia Bourne, suas cenas de ação parecem estar em câmera lenta. Depois das reviravoltas de A Origem, sua trama beira a idiotice. E, em 2010, sua visão de mundo felizmente parece ultrapassada. Espera-se.
Assista ao trailer de Os Mercenários:
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