Equador declara estado de exceção

Equador declara estado de exceção


AFP

Equador mergulha em crise e Correa fala em tentativa de golpe


                                                Por Hugh Bronstein e Alexandra Valencia
Policiais equatorianos realizam demonstração na sede da Polícia Nacional em quito. 30/09/2010 REUTERS/Guillermo Granja
QUITO (Reuters) - Policiais em protesto atacaram o presidente do Equador, Rafael Correa, na escalada de uma tensão política durante protestos na capital, Quito. Manifestantes, que criticam nesta na quinta-feira medidas de austeridade que cortam benefícios salariais, deixaram o líder de esquerda internado em um hospital, com partidários protestando no lado de fora.
Devido ao caos instaurado no país, Correa decretou estado de exceção em todo território nacional e delegou para as Forças Armadas a segurança interna e externa do país. O secretário jurídico da Presidência equatoriana, Alexis Mera, disse em entrevista coletiva do Palacio de Governo que está determinado o "estado de exceção por uma semana" e que, nesse período, as forças militares assumirão o controle da segurança.

Por telefone, Correa disse à imprensa local que os policiais em protesto o estavam buscando no prédio e que seriam responsabilizados caso ele ficasse ferido. Logo após, alguns partidários do presidente se posicionaram em frente ao hospital e atiraram pedras contra os policiais.
O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, pediu que simpatizantes realizassem uma marcha para salvar Correa.
"O presidente Correa tem dito que há pessoas tentando entrar pelo teto e atacá-lo", disse Patiño a uma multidão em frente ao palácio presidencial. "Eu quero convidar a brava gente aqui embaixo para ir conosco salvar o presidente."
O Equador, de 14 milhões de habitantes, tem um longo histórico de instabilidade política. Protestos nas ruas derrubaram três presidentes durante crises econômicas na década anterior à posse de Correa.
"O presidente está sendo mantido refém lá dentro", gritou Fernando Jaramillo, de 54 anos, um simpatizante do mandatário equatoriano.
Correa, aliado do presidente venezuelano Hugo Chávez, disse que seus rivais estariam planejando um golpe de Estado para derrubá-lo, e que ele e sua mulher sentiram os efeitos de uma bomba de gás lacrimogêneo que explodiu enquanto tentava falar com os manifestantes.
Mais cedo, visivelmente agitado, Correa desafiou os policiais em protesto: "Me matem se vocês quiserem. Me matem se vocês tiverem coragem".
Em momentos de caos e confusão em Quito, centenas de soldados tomaram a pista do aeroporto internacional, que foi fechado, e policiais uniformizados queimaram pneus em protesto a uma proposta do governo para cortar seus bônus.
Testemunhas relataram saques em Quito e Guayaquil, e disseram que muitos funcionários e estudantes retornaram para suas casas.
A estatal de petróleo Petroecuador afirmou que suas operações não foram afetadas e que militares reforçaram a segurança nas unidades.
Mensagens de apoio a Correa foram emitidas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e ao menos pelos governos de Brasil, Venezuela, Chile e Argentina.
O Itamaraty informou em nota que o ministro Celso Amorim telefonou para Patiño para expressar total apoio e solidariedade do Brasil ao presidente e às instituições democráticas equatorianas.
O governo venezuelano disse que Correa conversou com Chávez por telefone e confirmou que o caos era uma tentativa de golpe para derrubá-lo.
Correa analisa a possibilidade de dissolver o Congresso, onde membros de seu próprio partido de esquerda estão bloqueando propostas do Legislativo que têm o objetivo de cortar os gastos do governo.
A Constituição do Equador, de apenas dois anos, permite ao presidente declarar impasse político, dissolver o Congresso e governar por decreto até que novas eleições presidenciais e legislativas sejam realizadas. A medida, no entanto, teria que ser aprovada pela Corte Constitucional.
Aparentemente, a polícia liderou os protestos na quinta-feira, mas alguns soldados se juntaram ao movimento, em solidariedade.
POLICIAIS BLOQUEIAM ESTRADAS
Policiais em Guayaquil e Quito protestaram em seus quartéis. Militares em Guayaquil bloquearam algumas estradas que chegam à cidade litorânea, a mais populosa do Equador.
O chefe do comando das Forças Armadas, Ernesto González, garantiu que os militares estão subordinados à autoridade do presidente.
"Estamos em um Estado de Direito. Estamos subordinados à máxima autoridade que é o senhor presidente da República", afirmou o chefe militar a jornalistas.
O presidente do Banco Central, Diego Borja, pediu calma e exaltou equatorianos para que não retirem dinheiro dos bancos.
O Peru fechou sua fronteira com o Equador.
Mais da metade dos 124 membros do Congresso equatoriano é oficialmente aliada a Correa, mas o presidente tem irritado os parlamentares de sua própria aliança por não dar sequência às propostas de reduzir a burocracia do país.
Correa foi eleito pela primeira vez em 2006, prometendo uma "revolução dos cidadãos", disposto a aumentar o controle estatal dos recursos naturais do Equador e a lutar contra o que considera a elite corrupta do país.
Entre as ações, ele está renegociando contratos com petrolíferas em uma tentativa de aumentar os recursos do Estado.
Mas as conversas têm ocorrido lentamente enquanto o governo ameaça assumir as operações de empresas que não concordarem com os novos termos. Entre as companhias que operam no Equador estão a Petrobras, a espanhola Repsol e a italiana Eni.
(Reportagem adicional de José Llangari e Santiago Silva, em Quito; de Mario Naranjo, em Santiago; de Eyanir Chinea, Andrew Cawthorne e Daniel Wallis, em Caracas)

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